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Fim de Missa

Em paz e acompanhadas pelo Senhor

As pessoas se derramam pela praça

As que por aqui passavam

Naquele exato momento

Ficaram pra sempre suspensas

Cristalizado movimento

Neste papel de bordas rendadas

Neste pedaço de antigamente

A menina que saltava

Flutua

Sem pés no chão

O homem de bigodes

Segura o chapéu

Ventava

As duas mulheres se apressam

Uma delas deixou no fogo

O almoço de domingo

Ao redor desse recorte

Tudo mais se foi

Foi-se o padre

Foi-se a missa

O gerente do banco

A noviça

Foi-se a mão

Que disparou a câmera

Justamente daqui

De onde se foi também

A nossa casa

Figura Na cabeça uma cartola

Que mal lhe encobria a crista

Sobre a barbela vermelha

Uma gravata de listra

Camisa de colarinho

Sapato de bico fino

Um terno risca de giz

Completava a criatura

Meu Deus, que tipo esquisito!

Não pude conter o grito

Diante da estranha figura

Olhe como você fala

Bradou em tom de censura

O galo em traje de gala



Prolegômeno

Esqueça comigo o que significa esse nome

E também que ele só anda aos pares

Se dá ares de plural

Pense nele como um homem

Como um parente esquisito

Que a família nem faz questão

De apresentar às visitas

Prolegômeno mora de favor

No quartinho do fundo

Onde a janela raramente se abre

Prolegômeno é alto

Magro e curvo

Usa chapéu e guarda-chuva

Prolegômeno sai toda tarde

Pra caminhar pela cidade

Aqui e ali cumprimenta um conhecido

Amigo de verdade só tem o preto Vigilato

Sua versão de pele escura

Prolegômeno quando vai à missa

Senta na última fileira

Prolegômeno mora em Minas

E rima com Paralipômeno


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