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Olhares Era o mesmo ramo

E no ramo a mesma flor


Um via a flor delicada

E seu delicado perfume

Como provas de que a vida

Sempre floresce em beleza

Não era toda verdade

Nem era tudo ilusão

Um via no ramo o espinho

E sua ponta cortante

Como provas de que a vida

Esconde sempre um ferrão

Não era toda verdade

Nem era tudo ilusão


Aparecida com medo de chuva Era só parecer que chovia

E Aparecida aparecia

Com seu casaquinho verde

Sua sombrinha vermelha

A que vinha ela tão cedo?

Se lhe fosse perguntado

Diria que tinha medo

Do lugar onde vivia

Na descida do mercado

Se não

Apenas sorria

E ficava ali sentada

Enquanto a chuva caía

Aos cinquenta

Aparecida

Parecia uma menina

Muito cedo envelhecida

Há na cidade quem diga

Que não era uma menina


Era uma boneca antiga

Guardada em naftalina

Mas olha o que aconteceu:

Alguém a viu certo dia

Seguindo pela avenida

Com duas malas na mão

Desde então Aparecida

Nunca mais apareceu

Talvez repouse esquecida

Numa loja de antiquário

No fundo de algum armário



Consolação A casa olhava do alto

O vai e vem da avenida

A escada era bem aqui

Ali ficava a varanda

Mais adiante eram os quartos

Onde dormia a família

Aos poucos se foram as vidas

Pra quem a casa foi feita

Mais tarde se foi a casa

Pensada pra aquelas vidas

Mas não foi logo em seguida:

A casa teve uma história

Antes de ser demolida

Depois da família nobre

Muito pobre morou nela

A viúva com seu filho

O mordomo e sua tia

A menina que vivia

Debruçada na janela

Um ex-padre e uma ex-freira

Uma família estrangeira

Vivida por tanta gente

A casa foi decaindo

Acabou valendo menos

Do que valia o terreno

Este que agora vemos

Aqui onde ela existiu

No lugar da casa velha

Envelhece o seu vazio





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